domingo, 27 de janeiro de 2008

Eles devem achar que é dificil............ video Nº2

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Zeitgeist I - A maior história de Todas [Parte 2]
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Surto de desinformação

Ao preferir o alarmismo, a imprensa incentiva novos riscos, como o da revacinação contra a febre amarela

A febre amarela tem sido foco de interesse da mídia nas últimas semanas e, aparentemente, provocou uma epidemia de desinformação. É bom esclarecer que esta é uma doença silvestre, isto é, ocorre em matas e florestas. Sua transmissão acontece por meio de uma complexa associação: macaco infectado, vetor do vírus (mosquito Aedes aegypti) e humano não imunizado. A doença ocorre principalmente em macacos e os humanos são verdadeiramente turistas acidentais nesse ciclo. Além disso, a doença parece não passar de humanos para humanos.

Apesar de não ser impossível haver casos em centros urbanos, isso não ocorre oficialmente desde 1954 nas Américas, salvo seis casos suspeitos em Santa Cruz de La Sierra em 1997. No Brasil, não há relato de casos em centros urbanos desde a epidemia de 1929, no Rio de Janeiro, que provocou quase 500 mortes, de três casos observados em Sena Madureira, no Acre, em 1942.
A febre amarela foi erradicada das cidades graças ao trabalho de dois ilustres médicos brasileiros: Emílio Ribas e Oswaldo Cruz. O primeiro iniciou a campanha contra o mosquito em 1901, quando ainda não era uma certeza de que o mesmo era o vetor da doença. O segundo criou, em 1903, o serviço de profilaxia (vacinação).

A vacina contra a febre amarela é altamente eficaz e capaz de conter qualquer epidemia. Além disso, a capacidade de produção do Instituto Bio-Manguinhos atende a toda a demanda. Este ano, serão produzidos 30 milhões de doses. Desde 2000, mais de 170 milhões foram distribuídos, principalmente em áreas de risco, onde vivem apenas 35 milhões de pessoas. Este trabalho do Ministério da Saúde faz com que o índice de proteção da população seja altíssimo, o que praticamente impede uma epidemia.

A vacina é feita com um vírus atenuado, isto é, um subtipo de Flavivírus, que provoca uma doença bem menos grave que o subtipo da febre amarela. Mas ambos são tão parecidos que os anticorpos que o corpo humano produz contra o vírus da vacina combatem também o verdadeiro vilão. A vacina promove a imunização por pelo menos dez anos em mais de 99% dos vacinados. Made in Brazil, abastece toda a América do Sul.

O perigo, porém, está nas reações que a vacina pode provocar, especialmente na revacinação (desnecessária), em que reações não são incomuns e podem até ser letais.
Campanhas de vacinação devem ser restritas apenas às áreas de risco. O Ministério da Saúde tem agido de forma clara e certa nesse sentido, mas a mídia continua, mesmo que involuntariamente, a alarmar a população desnecessariamente.

À população caberá, sempre, combater o vetor, ou seja, matar o mosquito. Com isso, estará combatendo também outra doença muito mais preocupante e epidêmica, a dengue, que causa muito mais prejuízo e é uma ameaça muito maior que a febre amarela. Só no ano passado, 500 mil infectaram-se e 136 morreram. Mas, em vez de combater o criadouro do mosquito nos vasos do quintal, as pessoas estão fazendo filas para ser vacinadas contra a febre amarela.

Quando os jornais noticiam internações por conta de febre amarela em grandes centros, como Belo Horizonte e Brasília, não fica claro que estas pessoas viajaram para o interior de Goiás e para o oeste mineiro, locais onde se contaminaram nas matas. Deixar de citar o foco da doença é desinformar, e faz com que os habitantes dessas cidades se sintam ameaçados. E corram para o posto de vacinação.

A vacina promove a proteção nas áreas onde existe a doença, mas não é inócua. Se alguém for vacinado ou revacinado sem necessidade e vier a falecer por isso, cabe uma reflexão da mídia sobre o seu papel nessa morte. Até 21 de janeiro, foram anunciados 31 casos de reações adversas à vacina, dois em estado grave. É uma situação em que a desinformação pode matar mais gente que a própria doença.

Não é obrigação apenas do governo orientar corretamente os cidadãos, é de todos. Pelo menos neste caso, não adianta os editoriais cobrarem mais ação do governo. Seria mais útil publicar a informação clara sobre quem, realmente, deve receber a vacina e quem deve dispensá-la.